sexta-feira, 2 de julho de 2010

Tudo o que for, seja por inteiro…

Falando-se em Doutor Jivago, o drama épico de 1964, lembra-se logo das paisagens fantásticas, dos cenários gigantescos para a época e da tarefa hercúlea de suportar as três horas e tanto do filme de David Lean. Não deixam de ser verdades, essas. De fato, a fotografia de Freddie Young, premiada com o Oscar, arranca belas imagens das paisagens russas inóspitas que dominam a tela. E, de fato, a dimensão do próprio filme, seja em extensão ou produção, é de impressionar até hoje. Mas, focando-se tanto nisso, esquece-se da maior qualidade que o filme de Lean nos apresenta: tudo o que se propõe a ser, Doutor Jivago é por inteiro, sem concessões ou suavizações.

Romântico, na definição mais pura da palavra, com o sentimento que atravessa todos os pesares entre o personagem-título, o médico-poeta Yuri Jivago, e sua musa Lara. Melodramático, na forma como encena os traumas de infância do protagonista e a virada emocional de Lara no primeiro ato. Épico, ao atravessar do nascimento a morte a vida do personagem-título, seu casamento com a amiga de infância, os filhos e a fuga da miséria na época bolchevista da Revolução Russa, fazendo um retrato histórico amplo de uma época de mudanças extremas. Difícil, no sentido em que são poucos os que entendem e apreciam esse tipo de extrapolação. E destemido, sem receio algum de envelhecer como envelheceu aos olhos da platéia moderna. E, ainda assim, continua um instantâneo encantador para quem observa com olhos pacientes e sensíveis o bastante.

Para começar, o cinema de David Lean é daqueles que lança mão de todos os recursos possíveis para quebrar a frieza naturalmente existente entre o espectador e o que ocorre na tela. Seu trabalho é competente e, em muitos sentidos, sutilmente transgressor, mas seria injustiça creditar Doutor Jivago a apenas um gênio. Omar Sharif é pura empatia no papel principal, fazendo contra-ponto a uma líndissima Julie Christie e enchendo cada frame em que está presente com a vitalidade de um ator jovem e indiscutivelmente talentoso. Christie, por si, engata aos poucos em uma atuação que convence, mas não impressionaria se não fosse pelos belos olhos azuis que exibe. E a coajuvância está por conta de Rod Steiger, absolutamente fantástico na pele do proverbial “vilão” do filme. Se é que se pode chamá-lo assim, tamanho é seu carisma em tela.

E Lean ainda conta, para matar qualquer tipo de crítica, com a música de Maurice Jarre, um dos mais talentosos compositores de cinema de toda a história. Esse sim, completa a máxima do filme. Por causa dele, acima de tudo, que somos convencidos a chamar Doutor Jivago de brilhante… por inteiro.

no 1001

Doutor Jivago (Doctor Zhivago, EUA, 1964) 197 minutos. Som/ Metrocolor.

Direção: David Lean.

Produção: Arvid Griffe, David Lean, Carlo Ponti.

Roteiro: Robert Bolt, baseado no livro Doctor Zhivago de Boris Pasternak.

Fotografia: Freddie Young.

Música: Maurice Jarre.

Elenco: Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin, Rod Steiger, Alec Guiness, Tom Couternay, Klaus Kinski.

… Embora seja uma tocante história de amor com Christie e Sharif encarnando com competência o casal infeliz, Doutor Jivago é talvez mais lembrado por suas seqüências magníficas: o ataque de cossacos armados com espadas contra um grupo de manifestantes, a viagem de trem interminável, através do país, suportada pela família Jivago, a paisagem de inverno que Jivago precisa enfrentar para se reencontrar com Lara em uma mansão de campo abandonada… (R. Barton Palmer)

Vindo por aí… O Mágico de Oz (Victor Fleming, 1939)      

2 comentários:

  1. Sabe que eu gostei muito mais da primeira vez que vi este filme.
    A musica comove, Omar Shariff ainda é lindo e as tres horas a gente nem sente e não discuto que é um bom filme mas o impacto da primeira vez que se assiste este é inesquecivel.

    abraços Caio;

    ResponderExcluir