Fazia muito tempo, tempo demais, que eu não me arriscava em um dos 1001 filmes indicados pelo livro que ganhei em Março. E foi meio sem querer que resolvi assistir Desejo e Reparação, o último dos listados por Steven Jay Schneider e compania. Uma reserva furada na locadora me conduziu a esse que foi um dos grandes momentos do cinema em 2007, perdendo para Onde os Fracos Não Têm Vez o Oscar de Melhor Filme, mas levando quase tudo no Globo de Ouro. Como sempre quando se trata de cinema, valeu a pena arriscar.
Desejo e Reparação é uma peça vibrante de cinema calculado com cuidado, com a câmera talentosa do diretor Joe Wright brincando com os estigmas do drama de época inglês e injetando uma visão moderna, vívida e enérgica a narrativa inteligente, retirada com maestria do best-seller de Ian McEwan. O trabalho do roteirista Christopher Hampton é mesmo louvável, mas não dá para negar que são os temas de McEwan, a forma como ele trata da distorção da realidade em ficção e da maneira como um ponto de vista pode acabar julgando mal um acontecimento, que encanta no filme tanto quanto o fez na literatura.
Isso sem contar que o filme tem um elenco fantástico. Keira Knightley e James McAvoy mostram-se intérpretes de magnetismo impressionante como Cecilia e Robbie, apaixonados de classes sociais diferentes na Ingleterra do pré-Guerra. Ele, filho da empregada e jardineiro da família. Ela, uma lady moderna, independente e cínica. O amor verdadeiro entre os dois é mal-interpretado por Brionny (Saoirse Ronan), irmã de Cecilia, que usa sua imaginação de escritora iniciante para inventar uma mentira que acaba levando Robbie para a prisão. Com a arma poderosa do tempo nas mãos, McEwan (e Hampton, por tabela), brincam com os destinos dos personagens, constróem cenários magníficos e ainda encontram tempo para nos apresentar uma virada final emocionante e desvastadora.
Brionny, por sí própria, é uma personagem fantástica, tanto que é tão impossível não sentir por ela quanto pelo casal apaixonado. Das três atrizes que a interpretam pela passagem do tempo, a única sem muito destaque é a desconhecida Romola Garai, dona do papel quando Brionny tem por volta dos 20 anos. Antes dela, uma surpreendente Saoirse Ronan encarna uma garota mimada de olhos intensos e atitudes insondáveis com desenvoltura de gente grante. E, por último, a gigantesca Vanessa Redgrave fecha o filme com o sentimentalismo e a vulnerabilidade de uma personagem arrependida sem meios de consertar seus erros.
É triste, sim, mas não dá para negar que é genial.
no 1001
Desejo e Reparação (Atonement, Grã-Bretanha/França, 2007) 130 minutos. Som/Cor.
Direção: Joe Wright.
Produção: Tim Bevan, Eric Fellner, Paul Webster.
Roteiro: Christopher Hampton, baseado no livro Atonement de Ian McEwan.
Fotografia: Seamus McGarvey.
Música: Dario Marinelli.
Elenco: Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai, Brenda Blethyn, Vanessa Redgrave, Saoirse Ronan.
… Ao considerar o drama de época britânico, saiba que ao introduzir uma linguagem cuidadosamente burilada e uma interação entre representantes de direfentes classes sociais está fundada a base para muitos filmes produzidos na ilha. Desejo e Reparação, de Joe Wright, expande essa forma para incluir um retrato memorável do amor romântico, embora com uma virada final… (Garret Chafin-Quiray)